Recebi de um anônimo um comentário-observação muito interessante no post de sexta-feira.
A receita do post tem como título Creme de manga e tâmaras e a foto que publiquei retrata uma tigela de creme de manga e três castanhas-do-Pára. Incoerência, não?! Embora a receita leve as castanhas, o título remete a outro ingrediente. Vacilo total.
A receita, como diz a Elisa Duarte Teixeira, é o texto culinário por excelência. Sendo assim ela –a receita-, possui alguns elementos obrigatórios, como título, ingredientes e modo de preparo. E ainda os elementos opcionais, como comentários, dicas, rendimento, informações nutricionais, categorizações e recursos icônicos. São os componentes estruturais e linguísticos da receita. E foi justamente no recurso icônico que errei. Como posso apresentar um creme de manga e tâmaras ilustrando a receita com castanhas? Hã?! Que feio...
Escrever receitas parece uma coisa bastante fácil, mas não é. Talvez pela presença do tema no nosso dia-a-dia é que tenhamos esta sensação. Desde sempre a gente ouve alguém dando uma receita na TV, no rádio. Ou ainda alguém que nos dita, pois “não segue receita, sabe de cabeça”. Existe a presença forte da oralidade nesta sensação de "é muito fácil". Mas e o texto escrito é fácil assim?
Eu tenho percebido isso com o blog. Parecia fácil sim, mas... então tenho que usar verbos. Uso parta ou corte? Acrescente, junte, coloque ou ponha? E se eu tenho que colocar alguma coisa várias vezes em algum lugar eu coloco-coloco-coloco ou ponho-ponho-ponho ou ainda eu coloco, depois eu ponho e depois eu meto???? E as quantidades, as medidas? Como faz? Uma xícara é quanto? Para mim é 240ml, mas as “xícaras-xícaras” aqui em casa, e na casa de todo mundo, geralmente tem 200ml. Não é tão simples assim. E nem vou entrar no mérito da tradução, que isso é papo longo e deixo para uma próxima conversa.
Eu, como tradutora e com um olhar de “linguista” sobre esses textos, consigo refletir sobre as sutilezas (ou nem tanto) que a escrita de uma receita pode apresentar para um leitor mais atento. Ou ainda o caos que uma receita mal escrita pode provocar na cabeça de um leitor menos experiente.
O meu estilo de escrever receitas, por exemplo, ainda não me deixa confortável. Eu sinto que pressuponho que quem está lendo minha receita já tenha noções mínimas de culinária, e vou levando o texto assim, falando para um interlocutor idealizado. Do mesmo modo que não coloco numeração nas etapas de preparo. Meu texto corrido talvez reflita a minha personalidade, que é assim saltitante, que não topicaliza, atropela.
Dias atrás eu estava pensando sobre o nome de alguns pratos. Não vou lembrar qual era a receita, mas dá para usar o caso em questão. Por que chamar Creme de manga e tâmaras, se tem castanhas também? Era algo assim, uma receita que tinha no título dois ingredientes, sendo que os outros entravam na mesma proporção na receita. E daí, como fica? Já percebi isso várias vezes, principalmente em receitas de revistas. É relevância do ingrediente ou o que? A quantidade? O nome mais bonito?
Vou observar mais atentamente.
Meu leitor Anônimo, obrigada pelo valioso comentário que possibilitou tal reflexão.
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Cara mia, nem quantidade nem relevância mas sim a afinidade dos ingredientes: os doces de gosto é que se combinam para criar sabor. Bc.
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