O
viajante experiente sabe que alguns lugares tem o privilégio de um perfume
exclusivo, inesquecível. Assim como algumas luzes e certos sons, também o
perfume faz parte da paisagem, depois permanece na memória, torna-se saudade.
A
Ligúria, toda voltada para sul, para o sol e para o mar, e protegida por um
arco de montanhas contra os ventos do norte, tem um fresco perfume vegetal, um
buquê de manjericão, alecrim, sálvia, ervas amargas, silvestres, adoçado pelo raio
solar do azeite de oliva. De fato, a culinária lígure, mais do que qualquer
outra na Itália, nasce na horta, nas floreiras das sacadas, no bosque, sobre os
terraceamentos que descem para mar, verduras e plantinhas aromáticas nutridas
de sol e maresia entre as oliveiras e os vinhedos.
Não que na Ligúria não se coma carne (carnes deliciosas) ou peixe (desde o prato real chamado cappon magro, aos preciosos moluscos de rochas, chamados de tâmaras, até à buridda e às sopas de peixe, até os mais simples frito misto); ou as massas: ravioli, trenette, corzetti, focacce, tortas recheadas, tudo aquilo que pode ser elaborado com farinha, água e criatividade. Mas também as carnes, os peixes, as massas tem sabor de ervas e possuem o perfume da horta e do bosque. Uma culinária de essências vegetais. Das hortas vem o manjericão, a sálvia, a salsa, o aipo, o alho, o alecrim, a cebola, o louro; da fértil Piana di Albenga e dos minúsculos campos estreitos entre o mar e os montes, as crocantes alfaces, a erva-doce, as alcachofras, as beterrabas, as favas, o grão-de-bico, os feijões; dos promontórios para o mar a chicória, a menta, a borragem, a manjerona, a anagálide, as campânulas, a arruda, a erva-doce selvagem, o tomilho; dos olivais, as azeitonas; dos montes que se estendem até o Piemonte, a Emília e a Toscana, os pinoli, as nozes, os cogumelos, as castanhas, os zimbros, as trufas brancas e pretas, e certas ervas aromáticas que mudam de nome e uso conforme o lugar.
Não que na Ligúria não se coma carne (carnes deliciosas) ou peixe (desde o prato real chamado cappon magro, aos preciosos moluscos de rochas, chamados de tâmaras, até à buridda e às sopas de peixe, até os mais simples frito misto); ou as massas: ravioli, trenette, corzetti, focacce, tortas recheadas, tudo aquilo que pode ser elaborado com farinha, água e criatividade. Mas também as carnes, os peixes, as massas tem sabor de ervas e possuem o perfume da horta e do bosque. Uma culinária de essências vegetais. Das hortas vem o manjericão, a sálvia, a salsa, o aipo, o alho, o alecrim, a cebola, o louro; da fértil Piana di Albenga e dos minúsculos campos estreitos entre o mar e os montes, as crocantes alfaces, a erva-doce, as alcachofras, as beterrabas, as favas, o grão-de-bico, os feijões; dos promontórios para o mar a chicória, a menta, a borragem, a manjerona, a anagálide, as campânulas, a arruda, a erva-doce selvagem, o tomilho; dos olivais, as azeitonas; dos montes que se estendem até o Piemonte, a Emília e a Toscana, os pinoli, as nozes, os cogumelos, as castanhas, os zimbros, as trufas brancas e pretas, e certas ervas aromáticas que mudam de nome e uso conforme o lugar.
Na
origem desta saudável exultação vegetal há motivos bem precisos. Em primeiro
lugar, a própria conformação da Ligúria, que é um estreito território
montanhoso rico de vegetação nativa e privado do espaço necessário para a
criação de animais. Depois o clima muito ameno da Riviera, que favorece os
primeiros produtos da estação, a cultura de flores, até mesmo os cítricos. E
por fim, a proverbial sobriedade dos lígures, a sua sábia utilização dos
presentes da natureza, e a sua admirável disponibilidade ao trabalho, a paciente
dedicação artesanal, inclusive na culinária. Por isso os seus incomparáveis
molhos vegetais, sempre a base de azeite de oliva: o sublime pesto, que é um molho denso de
manjericão, salsa, alho, queijo pecorino
(algumas vezes também pinoli); a potente aggita
de alho, o maro de favas frescas, o
perfumado zemin com tomates, e os
molhos com nozes, com alcachofras, com cogumelos, com pistaches e, sem falar
dos molhos de anchovas e de ostras e do vigoroso molho tocco de rosto.
Verduras,
molhos e queijos de alta qualidade: macios e duros, ovino e bovino, deliciosas formaggette caprinas, geralmente picadas
com ervas e legumes e, mais geralmente ainda, misturadas com farinha. No vasto
capítulo das massas recheadas e das focacce,
das fugassette, das fainà, das panisse, das tortas e das fritelle
salgadas, das pizzas, recheadas e guarnecidas com qualquer tipo de vegetal
aromático e sabores do mar. Parcimonioso – e por isso de alto nível-, é o uso
da carne, e escassa a presença de porco, mas longa é a lista de peixes, dos
crustáceos, dos moluscos. Inclusive as sagre
(festivais) de peixes na Ligúria estão entre os mais alegres e pitorescos da
Itália: em primeiro lugar, a sagra de Camogli, em maio, com o peixe frito no
maior “padellone”[1] do
mundo com 5 metros de diâmetro, e o festival de Lavagna, em junho, com os
peixes assados sobre pedras de ardósia.
Para
um grande almoço de tradição lígure, escolhem-se entre os corzetti de massa feita com ovo ao molho de tomate, os ravioli, os pansoti recheados; o cappon
magro de peixe e verduras, e a torta
pasqualina, as duas obras-primas quase emblemáticas da culinária regional;
as tâmaras, as trufas e os mexilhões (tipo de molusco indiscutivelmente
afrodisíaco, cada vez mais raro) cozidos, em sopas, recheados; os cogumelos
silvestres, cima (peito) de vitelo
recheado, os stecchi fritos, as
alfaces recheadas. Para a sobremesa, os chinotti
em calda (fruta cítrica da Ligúria, levemente amarga), os pêssegos recheados ao
forno, as sciumette, a spongata, as violetas silvestres
cristalizadas.
Uma
refeição menos luculiana encontra opções nas trenette com pesto, nos nhoques conhecidos como troffie, nas minestras de verduras, na mesciua de trigo e grão-de-bico, nos risotos
de peixe e ervas, nas várias sopas de peixe, na saborosa criatividade das focacce e dos tortini, cada lugar com a sua especialidade. E
depois, frituras de peixe, bagnum de
anchovas, peixes secos de diversas formas, grandes saladas mistas, inclusive o
saboroso condiggion de anchovas. Para
sobremesa, bolos de nozes e de castanhas, doces fritos, rústicos biscoitos do Lagaccio com sementes de erva-doce.
Vinhos,
brancos na maioria, de exígua produção, mas requintada, sejam os DOC, sejam os
anônimos nostralini que mudam de
lugar para lugar. Entre os brancos secos para peixe, o das Cinco Terras, o Timassima, o Pigato, o Vermentino, o Campochiese,
o Coronata, o Cortese, o Massarda, o Morasca, o Piematone, o Polcevera, o
Sarticola, o Val di Magra. Das uvas secas dos mesmos vinhedos, os vinhos
doces para sobremesas. Tintos: o Rossesse
di Dolceacqua e o S. Biagio, o
Barbarossa, o Dolcetto, o Brachetto di Albenga, e o Sciacchetrà, também em
versão doce.
Zucchine Trifolate alla Genovese
(Do livro Profumo di Basilico - Deliziose ricette di Liguria)
Ingredientes
Abobrinha italiana
Alho
Manjericão fresco
Salsinha fresca
Azeite de oliva
Sal e pimenta
Lave as abobrinhas e corte em cubos mais ou menos regulares. Coloque o óleo em uma frigideira, depois o alho e deixe fritar por alguns segundos. Mexa a frigideira para deslocar os cubos de abobrinha e dourar por igual. Quando dourado (5 min), tempere com sal e pimenta. Acrescente as ervas frescas. Sirva imediatamente.
[1]
Tipo de frigideira
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Adoro abobrinhas e essa sua ficou linda e deliciosa Carlinha! ;) Hummm comeria agora no almoço, perfeito!! Zucchine é muito Itália né... Hummm Beijos minha italiana querida! ;) Tê
ResponderExcluirSabe aquela vontade que tu teve de comer um pratão de rúculas? Eu tive quando vi essa foto, eu amo abobrinha!
ResponderExcluirAbobrinha é tudo de mais gostoso...hummm!!
ResponderExcluirSuas descrições são intensas...adorei!!
Bj...
Linda e poética descrição da cucina da Ligúria!!!
ResponderExcluirParabéns!!!