Faz algumas semanas que tenho frequentado a FAE, a feira dos agricultores ecologistas, no bairro Bom Fim em Porto Alegre. É uma feira muito bacana onde expositores de boa parte do estado, geralmente provindos da agricultura familiar, vendem seus produtos orgânicos, frescos, nativos e da época.
Morei em frente ao local onde acontece a feira e já frequentei muito, naquele tempo e também no período do Armazém Artusi, onde íamos bem cedinho para não pegar movimento. Depois dei um tempo, não fui mais, pois moro em outra cidade e sair daqui sábado pela manhã dá uma preguiça... Mas tenho sentido a necessidade de frequentar a feira novamente, pois comprar frutas, verduras e legumes nos supermercados ou hortifrutis tem sido complicado por vários motivos.
Morei em frente ao local onde acontece a feira e já frequentei muito, naquele tempo e também no período do Armazém Artusi, onde íamos bem cedinho para não pegar movimento. Depois dei um tempo, não fui mais, pois moro em outra cidade e sair daqui sábado pela manhã dá uma preguiça... Mas tenho sentido a necessidade de frequentar a feira novamente, pois comprar frutas, verduras e legumes nos supermercados ou hortifrutis tem sido complicado por vários motivos.
Obviamente é uma necessidade vinda por eu estar mais atenta à alimentação, também pela retomada do blog, mas confesso que as idas ao supermercados da vida tem me deixado incomodada, pois são sempre as mesmas frutas, as mesmas verduras, os mesmos legumes, independente da época do ano. Fora a data de validade que geralmente são mais curtas. Cansei de comprar folhas, por exemplo, que no outro dia estão estragadas, amareladas, podres.
Em seu livro Sociologias da Alimentação - comedores e o espaço social alimentar, Jean-Pierre Poulain descreve como a mundialização e os movimentos de deslocalização e de relocalização da alimentação transformaram o nosso jeito de comer. O alimento moderno, escreve ele, está deslocado, ou seja, desconectado de seu enraizamento geográfico e das dificuldades climáticas que lhe eram tradicionalmente associadas.
Nos supermercados, pelo menos aqui no sul, a única coisa que aponta o que está na safra é o preço mais baixo, pois praticamente todos os vegetais configuram nas gôndolas quase todo o ano. É tudo muito linear.
O contrário acontece em feiras orgânicas com venda direta dos produtores. Só nas últimas semanas consegui framboesa (!), araçá, butiá, urucum, figos maravilhosos e uvas de mesa docinhas. Araçá eu não comia desde criança, havia um pé na casa dos meus pais. Butiá, embora nativo, não é encontrado com facilidade. Figos lindos e orgânicos, muito difícil achar por aí.
Infelizmente, as feiras orgânicas ainda não são tão democráticas assim. Não é todo mundo que tem acesso e fica claro quando observamos o público que frequenta essas feiras. Orgânicos hoje, embora uma necessidade, não é uma realidade para a grande maioria dos brasileiros. São produtos geralmente mais caros, são feiras com dias, locais e horários que não contemplam as periferias. Infelizmente, pois um retorno a esse modo de produção e de consumo nos reconectaria não somente com nossa saúde, visto que o Brasil é o país que mais ingere agrotóxicos do mundo, mas também com nossas raízes. E as notícias são bem pessimistas, já que muitos dos incentivos à agricultura familiar poderão deixar de existir (sem falar na perseguição ao MST, um dos maiores produtores de orgânicos do país), enquanto o governo aumenta a liberação da gama de agrotóxicos permitidos para o agronegócio brasileiro. Isso é, estamos nadando contra a corrente, contra a pauta universal de sustentabilidade e biodiversidade. Logo nós, o país "pulmão do mundo" estamos sendo envenenamos por aquilo que comemos. Lamentável.
Eu também não compro tudo que consumimos aqui em casa em feiras ou produtores orgânicos. É difícil alcançar essa conta no final do mês, mas tenho tentado comprar aquilo mais urgente como as folhosas que consumo muito, alguns vegetais que são campeões de veneno e claro, algumas frutas nativas que não encontramos em outros lugares. Para as folhas e legumes geralmente peço do Sítio do Guido e eles, lindamente, entregam em casa.
Consumir em feiras também gera muito menos lixo, pois o uso de embalagens é mínimo. Você leva a sua sacola, compra coisas a granel, não tem aquele monte de embalagens plásticas de quando compramos no supermercado. Uma conduta alimentar sadia contempla toda a cadeia: do produtor ao lixo. Não adianta ser "ecológico" só até chegar a mesa. A alimentação passa, inclusive, sobre o lixo que geramos em nossas cozinhas. Aqui em casa o próximo passo é sistematizar os resíduos orgânicos para levar à composteira na casa dos meus pais uma vez por semana. Veremos.
Consumir em feiras também gera muito menos lixo, pois o uso de embalagens é mínimo. Você leva a sua sacola, compra coisas a granel, não tem aquele monte de embalagens plásticas de quando compramos no supermercado. Uma conduta alimentar sadia contempla toda a cadeia: do produtor ao lixo. Não adianta ser "ecológico" só até chegar a mesa. A alimentação passa, inclusive, sobre o lixo que geramos em nossas cozinhas. Aqui em casa o próximo passo é sistematizar os resíduos orgânicos para levar à composteira na casa dos meus pais uma vez por semana. Veremos.
O que quero dizer com esse post são várias coisas, mas a principal delas é que você pode, aos poucos, desnaturalizar comprar tudo no supermercado. Se você tem a possibilidade, isto é dinheiro, tempo e disposição, procure frequentar essas feiras orgânicas. Se o custo é alto para comprar tudo que precisa, faça uma seleção, assim como eu. O importante é que a gente comece a ocupar esses espaços como forma de incentivo aos pequenos produtores, como forma de democratização desses espaços, como forma de cuidar o que se come, mas também como forma de resistência às atrocidades do ramo da alimentação no Brasil. É muito importante essa tomada de consciência: comer é um ato político.
Além disso, minha gente, fazer feira ainda rende o papo com o feirante, rende o cheiro de suco de laranja misturado com cheiro de café e de caldo de cana. Tem gente bonita (embora, às vezes, bem da mal educada), tem cores muitas e alimentos que tenho certeza, farão você se emocionar, assim como eu no caso dos araçás e desses figos que foram comprados justamente para fazer sorvete.
Vou deixar aqui para vocês um mapa das feiras orgânicas no Brasil, na esperança de que aos poucos possamos consumir cada vez mais alimentos bons, limpos e justos, como sustenta e defende o movimento Slow Food.
Gelato ai fichi
Ingredientes
320 gramas de figos frescos
1 1/2 colher (sopa) de suco de limão
170 ml de leite integral
40 gramas de açúcar cristal - usei demerara
Em uma panelinha coloque o açúcar e o leite, mexa para dissolver o açúcar e leve ao fogo. Quando ferver, retire do fogão e reserve.
Descasque os figos, cuidando para retirar qualquer machucado da fruta. Com um mixer (ou processador) triture todos os figos e acrescente o suco de limão. Misture bem e adicione o leite adoçado já frio. Misture para incorporar todos os ingredientes.
Com sorveteira: coloque a massa de figo no recipiente da sorveteira e siga as instruções do fabricante. Aqui em 30 minutos atingiu o máximo congelamento e cremosidade. Coloque o sorvete em um recipiente e leve para congelar por 2h.
Sem sorveteira: Coloque a massa de figo em um recipiente um pouco maior e que possa ir ao congelador. Deixe congelando por 2h, retire e bata a massa, ou seja, mexa de maneira que fique mais aerado. Pode ser com um fuê, fica melhor. Faça isso mais duas vezes, a cada duas horas.
Retire do congelador alguns minutos antes de servir.
Esse sorvete é para quem gosta de figo mesmo, pois o gosto marcante é esse. Pouco doce, ressaltando o sabor da fruta. Uma delícia.
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Nossa, só de olhar a foto, sinto o gosto do figo, que delícia. Espero ainda encontrar bons figos para provar a receita. Gosto de feira livre, as daqui são bem pobrinhas, principalmente para uma cidade de 300 mil habitantes, até alguns anos havia praticamente só barracas de comidas e folhas, quase nenhum legume ou fruta, achava muito estranho, aos poucos tem melhorado.Orgânicos, apenas 1 barraca, triste.
ResponderExcluirBoa semana!